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O seu portal informativo sobre alimentação, nutrição e educação

O nascimento de uma palavra

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Deb Roy, pesquisador e diretor do Laboratory for Social Machines do Massachusetts Institute of Technology (MIT), em palestra proferida para o TED, descreve o processo de desenvolvimento da linguagem de seu filho, em experimento conduzido em sua própria residência. No projeto The Human Speechome, registrou por um período de 90 mil horas (10 horas diárias, do nascimento até os 3 anos da criança), (quase) todas as palavras e conversas entre o pesquisador, sua esposa e a babá, na presença da criança, através de 11 câmeras e 14 microfones instalados em diferentes locais da residência. Um dos objetivos da pesquisa foi determinar, através de modelos matemáticos, a influência do meio ambiente sobre a aquisição da linguagem. Uma pesquisa com profundas implicações sobre a maneira como aprendemos.

Sobre o estudo, ouça como  um “gaaaa” lentamente transformou-se em “água”:   e leia a matéria publicada no wired.com. Alguns dos arquivos publicados sobre o projeto: “The Human Speechome Project“, “New Horizons in the Study of Child Language Acquisition“, “Toward Understanding Natural Language Directions“, “Exploring Word Learning in a High-Density Longitudinal Corpus“.

 

Renato Janine Ribeiro: ética, política e os desafios da educação

Em entrevista publicada em junho de 2016, Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), discute a importância da formação intelectual do cidadão crítico para a construção de uma sociedade mais justa. O professor ocupou o posto de Ministro da Educação, entre abril e outubro de 2015.

A produção da violência, família e educação

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A afirmação de que a sociedade brasileira é autoritária e violenta contradiz a ideia do brasileiro cordial. Os estudos históricos têm mostrado cada vez mais os paradoxos de uma cultura marcada pela violência, seja no seu passado escravocrata, no extermínio dos índios ou na expulsão das populações rurais do campo para as periferias das cidades e a não incorporação dessa população à vida urbana e a seus benefícios como saúde, educação, emprego, moradia, direitos sociais e outros.

Os mecanismos de produção da violência e os modos de lidar com a questão serão o foco do VII Seminário Integração-Serviço-Pesquisa Política Pública CREN-UNIFESP-IEA, proposto pelo Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza do IEA.

Marcado para o dia 21 de outubro, das 9h às 17h, o debate traz como tema A Produção da Violência, Família e Educação. Gratuito e aberto ao público, requer inscrições via formulário e terá transmissão ao vivo pela internet. O encontro acontece na antiga Sala do Conselho Universitário.

As formas de ocupação do espaço urbano pelas populações mais pobres revelam o aumento da violência nos vários âmbitos da vida social. As periferias urbanas, as favelas, os cortiços e outros tipos de ocupações clandestinas são o resultado de relações sociais marcadas por conflitos sociais não resolvidos.

A formação histórica dos grupos e classes sociais no Brasil, bem como do próprio estado nacional, repercutem na atual constituição do tecido urbano e na composição dos núcleos familiares. Com isto, o grupo de pesquisa propõe problematizar o entendimento das formas de violência e suas causas dentro das relações familiares e escolares, bem como na organização dos serviços públicos e nas políticas públicas.

O debate buscará focar também o lugar da educação como espaço de reprodução da violência, bem como de discussão e transformação das experiências e possibilidades sociais.

 


A Produção da Violência, Família e Educação
21 de outubro, das 8h30 às 17h
Antiga Sala do Conselho Universitário, Rua da Praça do Relógio, 109, térreo, Cidade Universitária, São Paulo
Aberto ao público e gratuito; inscrição via formulário.— Transmissão ao vivo pela internet
Informações: Sandra Sedini (sedini@usp.br), telefone (11) 3091-1678
Página do evento: http://www.iea.usp.br/eventos/a-producao-da-violencia-familia-e-educacao

O dia do Professor

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Por Luís Fernando Praga

Joãozinho pega o coletivo diariamente às 5:30. Às 6:10 apanha o segundo ônibus que o deixa na porta da escola às 7:00. Cumprimenta alguns colegas e com sua pesada mochila entra ligeiro na sala para não atrasar o começo da aula. O professor Joãozinho atravessa a cidade, de uma periferia à outra para viver.

Viver, para Joãozinho, é fazer com que sua vida tenha algum sentido. É sentir prazer em aprender e poder ajudar pessoas a extraírem prazer do aprendizado. É transferir e trocar conhecimentos. É encontrar gente. É ter o que comer e onde morar dignamente. É tratar e ser tratado com respeito.

Jairo para em frente à escola e nota os olhares das meninas quando sai de seu carro esporte. Os meninos comentam e Jairo sente-se bem com a admiração das garotas e com a inveja dos garotos. Jairo mora a duas quadras daquela conceituada escola particular e, atraindo olhares, entra na sala atrasado e sem pedir licença à Cláudia, que pausa a explicação para que Jairo cumprimente e conte as novidades ao colega do lado.

Joãozinho tem uma classe com 40 alunos pobres, com histórias de privações e sofrimentos que comprometem o aproveitamento escolar. O professor sente que apesar de seu empenho, pouco do que diz é aproveitado. Nota, entretanto, que alguns alunos, como Janice, têm um brilho diferente nos olhos. É esse brilho, vindo do fascínio por aprender, que justifica todo o esforço empreendido por aluno e professor para estarem naquele lugar.

Cláudia vai pra escola de metrô e tem uma sala com 25 alunos, todos ricos, com histórias de abundância e prosperidade que comprometem também seu bom aproveitamento escolar. Cresceram acreditando ser melhores e mais dignos de viver do que outras pessoas. Os alunos de Cláudia se enxergam superiores a ela e consideram que não precisam de nada daquilo. Alunos com o olhar especial de Janice também existem naquela classe, como Humberto, e era apenas a eles que chegavam as palavras de Cláudia.

Apesar do desempenho escolar abaixo da média, os alunos de João são em regra muito obedientes, pois tiveram berço. Nasceram no berço de uma sociedade que afirma a todo instante que eles são piores que os demais. Que nunca conseguirão ter um carro ou uma casa como os da novela. Que se pegarem alguma doença banal irão morrer, pois não são ricos. Que jamais chamarão a atenção daquela paixão secreta, porque suas roupas são simples e puídas. Então, criados num berço que os fez crer que não valem nada, são submissos e passivos… enquanto não explodem.

Os alunos de Cláudia também tiveram berço. Em seu berço, Jairo e a maioria de seus colegas aprenderam que podiam de tudo, que eram a nata, que eram exemplos de sucesso e que todos desejam ser como eles. Aprenderam que estavam protegidos, pelas leis, pelo dinheiro e pelos muros e carros blindados, das injustiças, das doenças e dos pobres. Aprenderam nesse berço que são melhores que os demais e não devem prestar contas a gente de castas inferiores como Cláudia.

É complicado para João fazer seus alunos acreditarem que não são inferiores a ninguém, apesar do que dizem a sociedade e as novelas.

Cláudia tem dificuldades em mostrar a seus alunos que ter dinheiro não os faz superiores a seus semelhantes.

Enfrentar o desrespeito, a humilhação, a violência física e o assédio sexual de seus alunos é uma condição inerente ao trabalho de Cláudia. Ela precisava viver e seu viver é como o viver de João. Para comer e morar com dignidade ela se submete a dar aulas naquela escola.

Para completar-se como ser humano, em seu horário de almoço, Cláudia pega duas conduções, almoça no ônibus e chega à mesma escola da periferia onde o professor Joãozinho leciona de manhã.

João, para se alimentar e morar dignamente, em seu horário de almoço faz o caminho inverso e vai lecionar na escola particular onde Jairo estuda.

Quando Cláudia dá aulas na escola da periferia ela é mais respeitada do que na escola particular, mas ainda assim sofre abusos, pois alguns daquele alunos submissos lembram-se de terem aprendido que são inferiores a todo o resto, menos à mulher, e Cláudia é a oportunidade que esperavam para demonstrar algum tipo de superioridade e poder.

Mas o olhar de Janice misteriosamente compensa o perigo e a humilhação sofridos e Cláudia não desiste.

Jairo fica feliz quando Joãozinho entra na sala, pois agora pode exercitar seu preconceito de outra forma. Além de ser mais rico e poderoso que João, Jairo é branco e João é preto. A ignorância de Jairo o leva a entender aquilo como algo que rebaixe ainda mais seu professor, então Jairo abre sua caixa de ferramentas fascistas e piadas cruéis.

O olhar e os questionamentos de Humberto permitem que João releve as inconveniências infantis de Jairo e suporte passar por tudo aquilo.

À noite João e Cláudia se encontram em uma importante avenida da cidade. São grandes amigos e reivindicam melhores condições de trabalho para a categoria. Juntos, apanham de policiais que foram seus alunos naquela escola da periferia e que seguem ordens de políticos que foram seus alunos naquela escola particular.

Chegam a suas casas bem tarde, cansados e feridos, imaginando a difícil tarefa de enfrentar o dia seguinte. Não sabem explicar porque devem ir, mas sabem que irão para ver novamente os olhares de Janice e Humberto.

Percebem que Janice e Humberto são alunos diferentes, que não se deixaram iludir pelas supostas evidências sociais que os colocam em patamares evolutivos diferentes. São alunos que sabem que a sociedade está doente e acreditam que a cura está no conhecimento.

Cláudia e João ajudaram aqueles dois alunos a despertarem para o fato de que há uma infinidade de ignorâncias a se esclarecer.

Isso os tornou questionadores de certezas impostas e mais tolerantes com as ignorâncias alheias. Isso os impediu de se tornarem submissos a arbitrariedades ou arrogantes com quem passasse por situação de fragilidade. Isso os fez questionar os donos da verdade e os donos de pessoas.

Janice e Humberto não acreditam mais na sociedade que diz e age como se os negros, as mulheres e os pobres fossem inferiores. Não creem que alguém valha mais por ter mais dinheiro. Não se veem como superiores ou inferiores a ninguém, mas como gente, e sabem que gente tem sempre o que aprender e o que ensinar.

Professores como João e Cláudia conseguiriam facilmente outra ocupação que lhes garantisse um salário melhor para alimentar seus corpos, mas nenhuma ocupação poderia substituir aquela vocação, a única capaz de lhes provir um salário que alimente suas esperanças.

O tempo passou e João e Cláudia ainda lecionam. Ainda passam por situações difíceis e convivem com a injustiça diariamente, mas agradecem pela escolha que fizeram e se comovem nessa data, quando recebem a cada ano, mais e mais mensagens de Janices e Humbertos, cheias de carinho, notícias, questionamentos, reconhecimento, gratidão e no final há sempre um: “Você mudou a minha vida e isso não tem preço!”

Obrigado, prô!

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Texto originalmente publicado em outubro de 2015, em Carta Campinas.

Apoio à pesquisa e à inovação em Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas

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A Chamada tem por objetivo apoiar atividades de pesquisa de excelência, inovadoras e criativas, nos temas elencados nas Linhas de Pesquisa, com foco em Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas. As propostas devem apresentar abordagem multi e interdisciplinar, com vistas a aportar novos conhecimentos  e a fornecer contribuições efetivas para solução de problemas nacionais dentro dos seguintes temas:

a) Educação básica: ensino e formação docente
b) Cidadania, violência e direitos humanos

O primeiro tema vai ao encontro do esforço nacional de melhoria da educação básica e visa à produção de conhecimento de modo a subsidiar a elaboração, implementação e avaliação de políticas educacionais, capazes de contribuir para a elevação da qualidade da educação brasileira. Quanto ao tema da violência, que tem incidência sobre todo o tecido social, é imperiosa a necessidade de elegê-lo como eixo central. Assim, a Chamada direciona seu foco para a investigação de tópicos tais como uso da força física, crueldade, intolerância, medo, segurança e sua interação com as diversidades (gênero, raça/etnia, orientação sexual, populações vulneráveis etc.) e os direitos humanos.

Dadas as suas características, esta Chamada contemplará propostas nas quais a concepção de rede entre pesquisadores e instituições esteja presente, tanto nos aspectos do transbordamento disciplinar (interdisciplinaridade), da projeção territorial (nacional e internacional), da transferência dos resultados à sociedade, quanto do arranjo financeiro necessário em face da escala dos trabalhos pretendidos.

As inscrições estarão abertas até o dia 24 de outubro. Para acessar a Chamada, em seu texto integral, acesse: http://zip.net/bbttJ7

Achismos na Reforma do Ensino Médio ou Educando por Decreto

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Por Jorge Alves de Lima

Acho temerário comentar notícias, pois elas são sempre feitas para vender jornal e nem sempre feitas para informar. Também acho complicado comentar um documento sem tê-lo lido na íntegra – ainda mais quando se trata de um dispositivo legal, que eu acho mais apropriado para a leitura de juristas ou de especialistas da matéria nele versada. E, claro, acho pouco produtivo comentar assuntos dos quais não entendo patavinas – e não acho, em conclusão, que eu vá acrescentar nada de novo à discussão do tema em si.

Feitas essas ressalvas, acho estranho que a tal da reforma do ensino médio (que parece significar a mais profunda alteração já feita na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB) seja proposta por medida provisória.

Se bem me lembro, quando criado, o famigerado instituto da medida provisória pretendia disciplinar os atos legislativos do poder executivo que, na prática, usurpava as prerrogativas do poder legislativo – ao editar normas legais, geralmente via decreto-lei. Tratava-se de um tempo sem demandas democráticas, quando os ocupantes militares do poder estavam encarregados de salvar o país de sabe-se lá o que. Assim, se não me falha a memória, um decreto tinha um prazo de tramitação que, quando esgotado sem apreciação legislativa, era convertido em lei por decurso de prazo. E pronto!

O decurso de prazo, me parece, era uma ferramenta tão insidiosa quanto à recorrente “prescrição” – a mesma que, após toda sorte de embaraços e recursos protelatórios, permite que algumas condutas criminosas e certos desvios sejam perdoados sem serem necessariamente objetos de um julgamento. Geralmente, o criminoso conta com isso.

Com a medida provisória, se conservou a possibilidade de o executivo criar leis, o que é, ademais, um despropósito, pois o legislativo existe exatamente para isso. A justificativa tem sido a necessidade de respostas rápidas para determinados assuntos. Diferentemente do modelo anterior, o decurso de prazo passou a invalidar o ato do executivo, portanto, não mais se convertendo em lei.

O que pareceu um ganho foi logo se mostrando um achaque: como se verificou que a letargia dos parlamentares poderia seguir sendo um problema para a pressa do executivo, foram criados instrumentos para aumentar a “vida útil” das medidas provisórias e para provocar a ação nas casas legislativas em tempo hábil (afinal, os legisladores têm mais o que fazer do que ficar legislando todos os dias). Assim, uma medida provisória, decorrido certo prazo sem apreciação, tranca a pauta da casa parlamentar. É quase uma chantagem.

Mesmo com isso, seguiu o carnaval, com medidas provisórias sendo editadas para praticamente tudo. Por exemplo, a Agência Nacional de Cinema (Ancine), importante, sem dúvida, foi criada por medida provisória (MP 2228-1/2001). Certamente, havia alguma urgência – e eu apenas não consegui captar.

Deu-se que decidiram que os temas das medidas provisórias, além de urgentes, não poderiam ser sobre matérias privativas do parlamento. Não sei se isso pegou, já que vivemos num país no qual as leis se aplicam na medida que “pegam”; caso contrário, tornam-se letra morta (boa parte da Constituição Federal, por exemplo, que não é uma lei qualquer, ainda não foi regulamentada – portanto, não “pegou”).

Faltou incluir, e talvez o futuro nos traga isso, que uma medida provisória não deve ser editada sobre temas que interessem ser discutidos com profundidade pela sociedade, situação na qual uma variedade de assuntos se enquadra.

Assim, postos todos esses achismos sobre leis e afins, chega-se ao âmago da questão que é entender os motivos de o governo federal ter preferido que a reforma do ensino médio – um tema que afeta tanta gente e que já é urgente há tanto tempo – fosse para o Congresso Nacional via medida provisória (746/2016).

Mas eu acho, de verdade, que um tema dessa envergadura deveria ser construído conjuntamente, envolvendo não só professores, alunos, pais e pesquisadores da educação, mas legisladores, secretários de educação, coordenadores pedagógicos, presidiários, empresários, prostitutas, vendedores de bilhete de loteria, banqueiros, políticos, bêbados e equilibristas.

Deveria ser assunto na novela, no cabeleireiro, nas discussões do vestiário, em histórias em quadrinho, em conversas de bar. Tanta gente pode ter tanto a dizer sobre a educação – ainda que boa parte possa não ser minimamente exequível, mas ser legítima, pois seria o povo discutindo como quer ser educado. Simplesmente porque todo mundo passou, passa ou passará (ou deveria) pelo ensino médio. E simplesmente porque não é um assunto para apenas os 120 dias de debates ensejados na apreciação de uma medida provisória.

Se é que vai haver algum debate, pois, no nosso “semipresidencialismo”, tendo o executivo maioria no legislativo, os assuntos às vezes nem são debatidos pelos parlamentares: são decididos pelos líderes partidários e vão a plenário já “aprovados”. Depois, são decretados pelo presidente do Congresso Nacional, sancionados pelo presidente da República, publicados no Diário Oficial e ignorados pelo povo.

Sim, porque esta é a resposta da sociedade – e nisso o Brasil inovou: se uma lei não representa os anseios do povo ela não pega, sendo simplesmente esquecida. Fica a dica.

Aprendizagem Social Emocional

 

focotriplo_altaPor Jorge Alves de Lima

Nosso pequeno grupo de leitura chegou ao seu segundo livro: O Foco Triplo. Já faz tempo que terminei o curso de licenciatura, por isso, fiquei bem desacostumado com o tema “educação”, pois criei certo distanciamento do assunto. A verdade é que eu ainda tenho em mente vários textos e várias discussões sobre a complexa relação entre alunado, professorado, família, direção escolar – que, invariavelmente, descambavam para vitimizações de parte a parte e para a enumeração das muitas razões (reais) do insucesso das práticas pedagógicas ou das muitas explicações do fracasso escolar.

Evidentemente, por ser um organismo presente em praticamente todas as sociedades, a escola/educação é um tema de grande abrangência e está ao alcance de todos, quer sejam os cientistas do assunto, quer sejam os operadores (docentes, dirigentes), quer sejam os beneficiários (alunos). Daí que muito pode ser dito, com mais ou menos proficiência – e eu aqui, escrevendo sobre educação, acabo sendo um (mau) exemplo dessa liberdade de tratar do assunto, já que não sou nem estudioso do tema, nem professor e faz tempo deixei de ser aluno…

O que posso dizer de concreto sobre esse pequeno livro é que ele me cativou porque os autores não colocam o foco no que não deu certo e, muito interessante, também não descrevem teorias mirabolantes notadamente inexequíveis. Eles dissertam sobre experiências postas em prática que fizeram uso dos conceitos imbricados na Aprendizagem Social Emocional – que é o fio condutor dos textos reunidos no livro.

Confesso que nunca ouvi falar de Peter Senge, que aborda, na obra em apreço, o pensamento sistêmico e a inteligência sistêmica. Já, sobre o outro autor, Daniel Goleman, eu tinha alguma expectativa, pois sabia que se tratava do nome por trás do best-seller “Inteligência Emocional” – que foi uma verdadeira febre nos anos 1990 (que, claro, eu não li, pois eu já me esforçava, naquela época, para ficar por fora de tudo que estivesse na moda). Coube a Goleman tratar de dois dos focos abordados no livro: o foco em nós mesmos e a sintonia com outras pessoas.

A edição é agradável e o texto de ambos é sempre leve. Por se tratar de uma tradução, certamente merece aplauso o trabalho de Cássio de Arantes Leite. Há pequenas notas esclarecedoras no final do livro, que contribuem para complementar o texto-base. A leitura flui e o leitor verdadeiramente tem condições de visualizar as muitas experiências partilhadas pelos autores. Em momento algum o discurso pareceu-me doutrinador, desses que tentam nos convencer de alguma coisa. Pareceu-me muito mais uma conversa, na qual um dos lados tem mais para compartilhar e o faz com entusiasmo na medida certa. Ao terminar de ler, fiquei com a impressão de que há (ainda) muito para se fazer pela educação, porém, há também muitas possibilidades e alternativas interessantes.

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Autores: Daniel Goleman e Peter Senge
Tradutor: Cássio de Arantes Leite
Título: O Foco Triplo – uma nova abordagem para a educação
Editora: Objetiva (Rio de Janeiro)
ISBN: 978-85-390-0724-0
Páginas: 123

Sugata Mitra: “As provas não servem mais, são uma ameaça”

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Sugata Mitra, professor da Universidade de Newcastle, que ganhou o Prêmio TED em 2013, chama a atenção da mídia de todo o mundo com o projeto SOLE (sigla em inglês para Self Organised Learning Environments) – ambientes de aprendizagem auto-organizados – usado atualmente em escolas de 50 países.

“No centro do nosso cérebro está o que chamamos de cérebro reptiliano e sua função é decidir a cada momento se queremos lutar ou fugir – escapar a uma situação. Embora não sejamos conscientes, estamos avaliando continuamente e quando você sente uma ameaça desliga outras partes do cérebro como o córtex pré-frontal, que desempenham um papel primordial na coordenação de pensamentos. As provas são percebidas como uma ameaça e, portanto, a criatividade fica bloqueada. Se você perguntar a um estudante o que pede seu corpo durante um exame, a resposta será sair correndo. O estresse o leva a pensar que não é o momento para grandes ideias.” – Acesse a entrevista completa, por Ana Torres Menárguez, via El País

Para acessar as palestras do Professor Sugata, no TED, acesse: http://zip.net/bmtsXM e http://zip.net/blrw4f