As dificuldades causadas pela violência para a execução de políticas sociais

iea

Para discutir quais são os determinantes e os atores das novas formas de violência e como ela afeta a execução de políticas sociais no Brasil, o Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza realiza no dia 29 de setembro, às 8h30, a oficina Violência, Território e Políticas Sociais. O evento será exclusivo para convidados, mas poderá ser assistido ao vivo pela internet.

Acesse a programação em http://www.iea.usp.br/noticias/violencia-politicas-sociais

Biodisponibilidade de proteínas provenientes de alimentos de origem animal e vegetal

vegetables-versus-meat-on-forks

Por Bruna Sviech e Rafaela Martins– Alunos de graduação, Faculdades Ponta Grossa.  Com a colaboração de Alexandre R. Lobo – Nutricionista, Secretaria Municipal de Educação, Piraí do Sul/PR

A discussão sobre os efeitos biológicos de proteínas provenientes de alimentos ou de origem animal ou de origem vegetal não é nova. O ponto central no debate envolve a qualidade da proteína – cuja avaliação pode ser feita por testes biológicos em animais de experimentação em crescimento ou pelo balanço nitrogenado em seres humanos, ou ainda por sistemas de pontuação baseados na composição em aminoácidos da proteína –, que difere entre alimentos de origem animal e vegetal, fundamentalmente pelas diferenças na abundância em aminoácidos essenciais das suas proteínas. Neste caso, é importante levar em consideração que o conteúdo elevado em proteínas de um dado alimento não significa, necessariamente, que este alimento possui uma proteína de boa qualidade. Sendo assim, a origem alimentar, vegetal ou animal, é importante na avaliação do efeito biológico da proteína de um alimento.

De modo geral, para a análise da qualidade da proteína, em um alimento ou em uma combinação de alimentos na dieta, são considerados (1) o cômputo de aminoácidos (indispensáveis [essenciais] e dispensáveis [não essenciais]) e (2) a digestibilidade da proteína, que pode ser afetada por fatores estruturais (inerentes ou produzidos no alimento após o seu processamento) ou por interações – positivas ou negativas – entre os componentes do alimento (ou da mistura de alimentos da dieta) durante o processo digestivo. É importante também atentar para a adequação entre o conteúdo total de proteínas (e de outros nutrientes) e o de energia na dieta, e para condições que possam influenciar no aproveitamento biológico da proteína, como sexo, idade, nível de atividade física e estado de saúde do indivíduo.

imagem1

Proteínas em alimentos de origem vegetal apresentam menor conteúdo (ou, em outras palavras, são limitantes) em aminoácidos indispensáveis quando comparadas com proteínas em alimentos de origem animal. A combinação de diferentes alimentos de origem vegetal é, em função disso, uma estratégia dietética e nutricional alternativa na oferta destes aminoácidos de modo equivalente (ou, em muitos casos, até superior) àquela obtida a partir de alimentos de origem animal.

A digestibilidade de um nutriente é, em termos gerais, medida pela relação entre a sua quantidade ingerida e a não absorvida (excretada nas fezes). Fundamentalmente, fatores envolvidos com a digestão do nutriente, ao longo do trato digestório, poderão interferir na sua absorbabilidade pelas células intestinais e, como consequência, com reflexos no conteúdo fecal de nitrogênio. Neste contexto, é inegável a importância da estrutura do alimento para a bioacessibilidade – como parte da etapa pré-absortiva da biodisponibilidade – de nutrientes (e de não-nutrientes). A qualidade biológica de proteínas é então fortemente influenciada pela matriz alimentar (animal ou vegetal) e pelo tipo de processamento pelo qual esse alimento foi submetido. Sendo assim, o compartimento biológico (macro- ou microestrutural), a conformação da proteína, a presença de fatores antinutricionais, a formação de complexos insolúveis como resultado da interação química entre componentes da matriz (por ex. entre proteínas e carboidratos, ou proteínas e lipídeos), bem como fatores homeostáticos intestinais, como a taxa de renovação celular e a magnitude da fermentação bacteriana de proteínas no intestino grosso, todos, individualmente ou em conjunto, são fatores que podem interferir na avaliação da digestibilidade da proteína de sistemas alimentares e, por conseguinte, na determinação do seu valor biológico.

Qualidade e quantidade de aminoácidos como critérios composicionais da proteína, e aspectos ligados ao alimento e ao indivíduo que interferem na digestibilidade e na cinética de absorção intestinal interferirão, portanto, no turnover (degradação e síntese) proteico nos tecidos. Em outras palavras, fontes distintas de proteína dietética influenciarão de maneira diferente os eventos pós-absortivos, como o padrão de aminoácidos captados pelo fígado (onde parte será utilizada para síntese de proteínas) e posterior distribuição, via circulação sistêmica, para os tecidos – onde também serão utilizados para síntese de proteínas e outras funções metabólicas –, ou ainda a formação de metabólitos nitrogenados como resultado do catabolismo de aminoácidos.

Fórum: “Da segurança alimentar à segurança dos alimentos”

banner-do-forum-seguranca-alimentar-1

Organizado pelo Fórum Pensamento Estratégico – PENSES – da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), o Fórum “Da Segurança alimentar à segurança dos alimentos” acontecerá, no dia 19 de outubro, no auditório das Faculdades de Ciências Médicas, em Campinas. O evento tem como objetivo “traçar um paralelo entre a segurança alimentar e a segurança dos alimentos, no sentido de diferenciá-las e discutir as políticas e os desafios relacionados aos dois temas“.

O evento será dividido em dois blocos:  no primeiro, será debatido o papel da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público em assegurar o direito à alimentação, tal como garantido pela Constituição Brasileira. Quais alternativas estão disponíveis para a população em caso de violação deste direito? Quais são os deveres do Poder Executivo neste sentido? Em que medida o Poder Judiciário, por meio do Ministério Público, pode ser um caminho a ser acionado? A discussão será realizada por especialistas e gestores, avançando na articulação entre diferentes setores da sociedade para enfrentamento do problema. No segundo bloco, serão debatidas  três condições emergentes relacionadas à alimentação no Brasil: o aumento de brasileiros que se alimentam fora do lar, de indivíduos obesos e dos casos de doenças transmitidas por alimentos. Quais fatores afetam o crescimento destes números? Quais são as políticas voltadas à população e como o governo atua neste contexto?

Informações sobre a programação e como se inscrever, no site do evento, pelo telefone +55 (19) 3521-4171, ou pelo e-mail penses@reitoria.unicamp.br

 

 

Primavera

Por Luis Fernando Praga

flower-craft-for-kids-prfpc2ye

Vejo Dálias, Acácias e Tulipas,
Gardênias, Açucenas, Violetas.
Há crianças largadas nas sarjetas
E o céu venta um azul com muitas pipas.

Há Narcisos, Gerânios, e Hibiscos,
Crisântemos, Jacintos e Antúrios,
Há os ricos querendo ser mais ricos,
Narcisistas, hipócritas e espúrios.

O elixir extraído de uma flor
É um segredo muito bem guardado,
Capaz de dar alívio a tanta dor,
Só cura as dores do mais abastado.

Mas flores salvam vidas de quem sonha,
E há poucos sonhadores entre os meus.
Uns podam as Marias Sem Vergonha,
E outros vivem só de vender Deus.

Temos milhões de flores adoráveis
Espalhando-se em cores pelo chão
E pisamos bilhões de miseráveis
Pra que deles não reste um só botão.

Porém a primavera é milagrosa
E no concreto brota a Margarida
O nosso sangue rubro vai à Rosa
E segue além de nós a nossa vida.

Podemos sentir paz nesse jardim
Com flores diferentes lado a lado
Orquídeas não são mais do que o Jasmim,
E todo pólen é o mais sagrado.

Cada flor é por si uma lição,
Cada uma perfuma do seu jeito.
A leveza do Dente de Leão
Não crê em crises pro Amor Perfeito.

Na lenta cicatriz do nosso engano,
A Natureza atua enquanto espera
Que nos tornemos mais que húmus humano,
Pra florirmos nalguma primavera.

—————————————
Texto originalmente publicado em setembro de 2015, em Carta Campinas.

Aprendizagem Social Emocional

 

focotriplo_altaPor Jorge Alves de Lima

Nosso pequeno grupo de leitura chegou ao seu segundo livro: O Foco Triplo. Já faz tempo que terminei o curso de licenciatura, por isso, fiquei bem desacostumado com o tema “educação”, pois criei certo distanciamento do assunto. A verdade é que eu ainda tenho em mente vários textos e várias discussões sobre a complexa relação entre alunado, professorado, família, direção escolar – que, invariavelmente, descambavam para vitimizações de parte a parte e para a enumeração das muitas razões (reais) do insucesso das práticas pedagógicas ou das muitas explicações do fracasso escolar.

Evidentemente, por ser um organismo presente em praticamente todas as sociedades, a escola/educação é um tema de grande abrangência e está ao alcance de todos, quer sejam os cientistas do assunto, quer sejam os operadores (docentes, dirigentes), quer sejam os beneficiários (alunos). Daí que muito pode ser dito, com mais ou menos proficiência – e eu aqui, escrevendo sobre educação, acabo sendo um (mau) exemplo dessa liberdade de tratar do assunto, já que não sou nem estudioso do tema, nem professor e faz tempo deixei de ser aluno…

O que posso dizer de concreto sobre esse pequeno livro é que ele me cativou porque os autores não colocam o foco no que não deu certo e, muito interessante, também não descrevem teorias mirabolantes notadamente inexequíveis. Eles dissertam sobre experiências postas em prática que fizeram uso dos conceitos imbricados na Aprendizagem Social Emocional – que é o fio condutor dos textos reunidos no livro.

Confesso que nunca ouvi falar de Peter Senge, que aborda, na obra em apreço, o pensamento sistêmico e a inteligência sistêmica. Já, sobre o outro autor, Daniel Goleman, eu tinha alguma expectativa, pois sabia que se tratava do nome por trás do best-seller “Inteligência Emocional” – que foi uma verdadeira febre nos anos 1990 (que, claro, eu não li, pois eu já me esforçava, naquela época, para ficar por fora de tudo que estivesse na moda). Coube a Goleman tratar de dois dos focos abordados no livro: o foco em nós mesmos e a sintonia com outras pessoas.

A edição é agradável e o texto de ambos é sempre leve. Por se tratar de uma tradução, certamente merece aplauso o trabalho de Cássio de Arantes Leite. Há pequenas notas esclarecedoras no final do livro, que contribuem para complementar o texto-base. A leitura flui e o leitor verdadeiramente tem condições de visualizar as muitas experiências partilhadas pelos autores. Em momento algum o discurso pareceu-me doutrinador, desses que tentam nos convencer de alguma coisa. Pareceu-me muito mais uma conversa, na qual um dos lados tem mais para compartilhar e o faz com entusiasmo na medida certa. Ao terminar de ler, fiquei com a impressão de que há (ainda) muito para se fazer pela educação, porém, há também muitas possibilidades e alternativas interessantes.

——————————

Autores: Daniel Goleman e Peter Senge
Tradutor: Cássio de Arantes Leite
Título: O Foco Triplo – uma nova abordagem para a educação
Editora: Objetiva (Rio de Janeiro)
ISBN: 978-85-390-0724-0
Páginas: 123

Sugata Mitra: “As provas não servem mais, são uma ameaça”

sugata-mitra

Sugata Mitra, professor da Universidade de Newcastle, que ganhou o Prêmio TED em 2013, chama a atenção da mídia de todo o mundo com o projeto SOLE (sigla em inglês para Self Organised Learning Environments) – ambientes de aprendizagem auto-organizados – usado atualmente em escolas de 50 países.

“No centro do nosso cérebro está o que chamamos de cérebro reptiliano e sua função é decidir a cada momento se queremos lutar ou fugir – escapar a uma situação. Embora não sejamos conscientes, estamos avaliando continuamente e quando você sente uma ameaça desliga outras partes do cérebro como o córtex pré-frontal, que desempenham um papel primordial na coordenação de pensamentos. As provas são percebidas como uma ameaça e, portanto, a criatividade fica bloqueada. Se você perguntar a um estudante o que pede seu corpo durante um exame, a resposta será sair correndo. O estresse o leva a pensar que não é o momento para grandes ideias.” – Acesse a entrevista completa, por Ana Torres Menárguez, via El País

Para acessar as palestras do Professor Sugata, no TED, acesse: http://zip.net/bmtsXM e http://zip.net/blrw4f

 

 

Bioatividade antioxidativa de metabólitos secundários de origem vegetal

3qp_keckeygralfk

Por Aubrey Porto e Débora Neitzel – Alunos de graduação, Faculdades Ponta Grossa.                                     Com a colaboração de Alexandre R. Lobo – Nutricionista, Secretaria Municipal de Educação, Piraí do Sul/PR

Quimicamente, reações de oxidação envolvem a doação de um ou mais elétrons por uma substância (agente redutor) numa dada reação química. Por sua vez, enquanto um agente “doa” ou “perde” elétrons (e se oxida, portanto), outro – agente oxidante –  “recebe” esse (s) elétron (s) e se reduz no processo. Redução e oxidação são eventos [redox] simultâneos que constituem a base para o entendimento da formação de espécies reativas (algumas das quais conhecidas como “radicais livres”) – com diferentes graus de reatividade – nos processos bioquímicos de utilização do oxigênio, cuja atuação medeia a transferência de elétrons em inúmeras rotas bioquímicas em todos os sistemas biológicos aeróbios.

O equilíbrio na produção e remoção destas espécies químicas é fundamental para a manutenção da higidez homeostática celular e metabólica. Em outras palavras, embora importantes para diversas funções, como a sinalização de processos celulares e o combate a microrganismos infecciosos, sua produção descontrolada está relacionada com o desenvolvimento de doenças crônicas e a aceleração do processo natural de envelhecimento.

Sendo assim, sistemas de antioxidação enzimáticos e não enzimáticos, em situações de estresse oxidativo (isto é, quando há produção excessiva de radicais livres), funcionam como inibidores (1) da formação e (2) da ação destes intermediários reativos, ou ainda, (3) como reparadores de lesões oxidativas provocadas em moléculas e estruturas celulares. Dentro desta perspectiva biológica, alimentos possuem um papel preponderante no fornecimento dietético de componentes bioativos – nutrientes e não nutrientes – que podem atuar como antioxidantes (de modo direto, como não enzimáticos, e de modo indireto, participando dos sistemas antioxidantes enzimáticos).

acidos-fenolicos
Fórmula estrutural de alguns compostos fenólicos

A presença de alguns desses componentes, em alimentos de origem vegetal, tem implicações evolutivas. Como estratégia de defesa ambiental, plantas possuem um sistema de proteção contra a ação de herbívoros, de modo que alguns componentes possuem desde características que interferem na palatabilidade ou dificultam a sua digestibilidade (como a de alguns fenólicos e das fibras) ou apresentam algum grau de toxicidade para alguns de seus comensais. Sendo assim, os metabólitos secundários – componentes pouco abundantes, porém importantes na adaptação das plantas dentro de seus ecossistemas – são produzidos seletivamente ou como um mecanismo de defesa da planta contra patógenos – atuando como antibióticos, antifúngicos e antivirais –, com atividades antigerminativas ou tóxicas para outras plantas, ou ainda com a função de atração de insetos ou outros animais, com propósitos desenvolvimentais.

São cada vez mais evidentes os benefícios proporcionados pelo consumo continuado de dietas nutricionalmente diversificadas, fundamentalmente contendo matrizes alimentares de origem vegetal – como frutas, legumes e verduras – contendo variados componentes com algum papel antioxidativo. Micronutrientes (algumas vitaminas e minerais) e compostos fenólicos com diferentes estruturas e presentes em diferentes compartimentos celulares (condição que indica o meio no qual apresentam maior bioatividade) destacam-se como os mais relevantes antioxidantes dietéticos. Importante salientar que seus efeitos biológicos podem ser afetados pela interação entre os componentes no alimento e pela sua bioacessibilidade durante o trânsito intestinal. Estes contratempos fisiológicos influenciarão suas concentrações sanguíneas e, por sua vez, os efeitos biológicos em seus tecidos-alvo. Igualmente importante e desafiador é o estabelecimento de marcadores adequados na avaliação da atividade antioxidante e a identificação desses efeitos resultantes do consumo de dietas contendo variados tipos de antioxidantes.