Pesquisa em saúde corre risco

De autoria dos pesquisadores Augusto César Ferreira de Moraes (Universidade de São Paulo, Universidade Johns Hopkins), Francisco Leonardo Torres-Leal (Universidade Federal do Piauí, ONutricional) e Gilson Luiz Volpato (Universidade Estadual Paulista), texto faz críticas ao remanejamento de verbas destinado à pesquisa em São Paulo, estado responsável por 35% da produção científica nacional. O texto foi publicado na Revista Saúde (on line), no dia 25 de janeiro de 2017.


 

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A comunidade científica foi surpreendida com uma decisão política esdrúxula do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com o apoio da Câmara de Deputados. Ele ordenou a redução do repasse à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) de 1% para 0,89% da receita tributária do estado.

A medida retira 120 milhões de reais da Fapesp. O governador alegou que essa diferença será direcionada aos Institutos de Pesquisa do Estado — um total de 19 organizações, que inclui os tradicionais institutos Butantan, Pasteur e Adolfo Lutz.

Tal fato é inaceitável. Primeiro porque fere a constituição do estado, que menciona no artigo 217: “O Estado destinará o mínimo de um por cento de sua receita tributária à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, como renda de sua privativa administração, para aplicação em desenvolvimento científico e tecnológico”.

Segundo: o fato de o governo destinar essa verba aos Institutos de Pesquisa do Estado, extraindo-a da Fapesp, é uma ingerência brutal à administração estratégica e financeira dessa fundação. Afinal, cabe a ela direcionar o dinheiro que por lei lhe é garantido.

É claro que esse governo tem obrigação de zelar pelos Institutos de Pesquisa do Estado, principalmente por meio de financiamentos de infraestrutura e de recursos humanos. Porém, tal apoio deve ser conduzido com verbas adicionais — jamais desviadas do que nossa ciência já tem por direito.

Os cientistas do estado de São Paulo são responsáveis por 35% da produção nacional, com diversas pesquisas de destaque internacional. Recentemente, o referido governador falou em público que a “Fapesp gasta dinheiro com pesquisas acadêmicas sem nenhuma utilidade prática para a sociedade ou projetos sem relevância para saúde da população”.

Essas palavras, além de serem um completo desrespeito com a entidade e com os professores que recebem seus subsídios, revelam profundo desconhecimento sobre como funciona a ciência e suas relações com a tecnologia. Não há aplicação sem que haja conhecimento teórico forte: esse é o caminho da ciência à tecnologia.

Um exemplo clássico é o desenvolvimento do raio laser. Quando Theodore Maiman disparou o primeiro pulso de laser, em 1960, seu assistente D’Haenens descreveu a nova tecnologia como uma solução à procura de um problema. Ou seja, na época, ele não “servia para nada na prática”. Hoje, temos muitos problemas que são resolvidos com o laser, em especial na área da saúde.

As soluções de desafios práticos costumam vir da aplicação de conhecimento científico de alto nível, mesmo que desprovidos de aplicabilidade em sua origem. Veja, também, que a teoria quântica trouxe novos conceitos na área de informática, com desdobramentos práticos impressionantes, seguramente não imaginados durante a construção dessa teoria.

Por isso a Fapesp investe em ciência básica — sem deixar de enfatizar pesquisas direcionadas e empregadas para questões que claramente requerem solução. Ela é uma instituição ímpar em nosso país, que deveria ser motivo de orgulho do governo, que a sustenta com força de lei.

Ciência é saúde

Em 2013, cientistas da Faculdade de Medicina da USP demonstraram que a capacidade de produzir estudos científicos de qualidade está diretamente relacionada com a preservação da saúde humana. Essa relação está condicionada à capacidade das autoridades locais em criar políticas e infraestruturas básicas para o desenvolvimento de projetos de pesquisa de qualidade.

Ou seja, países que fomentam investigações científicas sérias exibem populações com melhores indicadores de saúde. Portanto, a restrição financeira feita pelo governo paulista à Fapesp significará prejuízo direto e indireto para a saúde e tantas outras áreas prioritárias da ciência nacional.

O fato contestado nesse texto apenas reforça o que a presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministra Carmem Lúcia Antunes Rocha, mencionou dias atrás ao trazer as palavras do antropólogo Darci Ribeiro, proferidas em 1982: “Se os governantes não construírem escolas agora, daqui 20 anos, não haverá dinheiro para construir presídios suficientes.”

Aprender a ler: uma revolução no cérebro

A Revista Neuroeducação (RNE) publicou, em abril de 2016, uma entrevista com o neurocientista francês Stanislas Dehaene. A entrevista foi conduzida pela jornalista Mariana Sgarioni. Em seguida, assista a uma aula ministrada pelo pesquisador sobre os fundamentos cognitivos da aprendizagem da leitura, com legendas em português.


 

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Ao ler este texto você está executando uma tarefa para a qual seu cérebro não foi concebido. Você pode até achar que a leitura é um ato quase automático. Mas seu cérebro não acha. Pelo contrário, ele faz uma verdadeira ginástica para se adaptar ao ato de ler. Neste momento, uma revolução de sinapses está acontecendo a cada fração de segundo para que você possa decifrar as palavras aqui impressas. Isso porque a escrita é algo recente, se pensarmos na escala da evolução humana (tem cerca de 5 mil anos). Quem conseguir se lembrar do próprio processo de alfabetização vai saber que não se trata de algo tão fácil. “Todas as crianças, seja qual for a língua, encontram dificuldades para aprender a ler. Estima-se que 10%, quando adultas, não dominem a compreensão de texto”, afirma o matemático e neurocientista francês Stanislas Dehaene.

20111129022537_dehaene_neuronios_leitura_gEm seu livro Os neurônios da leitura (Artmed, 2012), o diretor da Unidade de Neuroimagem Cognitiva do Instituto Nacional de Pesquisa Médica e de Saúde da França mostra que pesquisas da psicologia cognitiva experimental já mapearam as áreas envolvidas no reconhecimento da palavra escrita no cérebro. Tal descoberta questiona metodologias empregadas nas escolas, que, em sua maioria, diz Dehaene, fazem do aluno uma máquina de soletrar, incapaz de prestar atenção no significado.

Segundo ele, o cérebro aprende melhor pelo som do que pela imagem. Ou seja: o ensino deveria ser centrado nos fonemas, e não em figuras. Tanto que, foi constatado, há um progressivo aumento da atividade de duas regiões cerebrais ligadas ao tratamento fonológico durante o aprendizado da leitura.

Nascido no norte da França, Dehaene primeiro se dedicou aos estudos da matemática. No entanto, sua paixão sempre foi o funcionamento do cérebro. Hoje, é professor no Collège de France. “Meu interesse pela capacidade de ler é porque se trata do principal movimento que o cérebro realiza ao longo da vida. Há outra mudança importante, que é o aprendizado da matemática.” Ele pretende que a pedagogia e a psicologia possam se beneficiar dos estudos da neurociência para criar métodos de ensino mais eficazes. “A escola transforma nosso cérebro”, diz. “Para o bem, claro”, completa.

RNE: O senhor afirma que a leitura causa uma reviravolta nas nossas funções cerebrais preexistentes. Por quê?
Dehaene: Em primeiro lugar, gostaria de lembrar que a leitura é uma das várias atividades que o homem criou nos últimos milhares de anos. E trata-se de uma das mais recentes. A escrita nasceu há cerca de 5.400 anos e o alfabeto propriamente dito não tem mais de 3.800 anos. Se pensarmos na evolução humana, esse tempo é mínimo. Nosso genoma ainda não teve tempo de se alterar para dar conta de desenvolver um cérebro adaptado à leitura. Por isso, afirmo que o ato de ler é uma revolução: mesmo sem termos essa capacidade, o estudo de imagens cerebrais nos mostra que adquirimos mecanismos extremamente requintados exigidos pelas operações da leitura.

RNE: Como isso acontece em nosso cérebro?
Dehaene: Temos uma plasticidade sináptica desde que nascemos até a idade adulta. É ela que faz uma reconversão parcial da arquitetura do nosso córtex visual de primatas para reconhecer letras e palavras. Aprender a ler possibilita uma conversão de redes de neurônios, inicialmente dedicadas ao reconhecimento visual de objetos. Embora não exista uma área pré-programada para a leitura, podemos localizar diversos setores do córtex cerebral como responsáveis pela atividade. Um setor está em contato com as entradas visuais; outro codifica essas entradas com precisão espacial; outro integra as entradas de uma vasta região da retina, e assim sucessivamente. No córtex estão os neurônios mais adaptados à tarefa de ler. Especificamente, nos humanos, quem responde é o córtex occipitotemporal esquerdo. Porém, se no curso da aprendizagem, por alguma razão, essa região não estiver disponível, então a região simétrica do hemisfério direito entra em jogo.

RNE: Isso quer dizer que o cérebro é tão plástico que é capaz de se transformar e atender a qualquer uma de nossas necessidades?
Dehaene: Não. Existe a teoria, aliás, revisitada por inúmeros pesquisadores, que aderem a um modelo que eu chamo de plasticidade generalizada e relativismo cultural. Segundo ela, o cérebro seria tão flexível e maleável que não restringiria em nada a amplitude das atividades humanas. Diferentemente de outras espécies, ele seria capaz de absorver toda forma de cultura. Pretendo mostrar em meu livro que dados recentes da imagem cerebral e da neuropsicologia recusam esse modelo simplista. Ao examinar a organização cerebral dos circuitos da leitura, vemos que é falsa a ideia de um cérebro virgem, infinitamente maleável, capaz de absorver todos os dados de sua cultura.

RNE: Entretanto, somos capazes de atividades extraordinárias, como ler, por exemplo.
Dehaene: Sim, nosso cérebro é evidentemente capaz de aprender. Porém, essa capacidade é limitada. Em todos os indivíduos do mundo, não importa a cultura ou o idioma, a mesma região cerebral – com diferenças mínimas – é ativada para decifrar palavras escritas. Minha hipótese é diferente dessa do relativismo. Proponho o que chamo de “reciclagem neuronal”. De acordo com essa hipótese, acredito que a arquitetura do nosso cérebro é construída com bases fortes genéticas. Mesmo assim, os sentidos do nosso córtex visual possuem uma margem de adaptação, uma vez que a evolução nos dotou de certa plasticidade e capacidade de aprendizagem. Isso quer dizer que os mesmos neurônios que reconhecem rostos ou corpos podem desviar-se de suas preferências e responder a objetos ou formas artificiais, como as letras. Nosso cérebro se molda ao ambiente cultural, não respondendo cegamente a tudo o que lhe é imposto. Ele apenas converte a outro uso suas predisposições já presentes. Ele faz o novo com o velho. O cérebro não evoluiu para a escrita, por exemplo. Foi a escrita que evoluiu para nosso cérebro.

RNE: Como “a escrita evoluiu para o nosso cérebro”?
Dehaene: Examine os sistemas de escrita. Eles revelam numerosos traços em comum. Por exemplo: todos, sem exceção, incluindo caracteres chineses, utilizam um pequeno repertório de base cuja combinação gera sons, sílabas e palavras. Essa organização se ajusta à hierarquia das nossas áreas corticais, cujos neurônios reconhecem unidades de tamanho e invariância crescentes. O tamanho e a posição dos caracteres também correspondem à nossa capacidade de visualização e retenção.

RNE: Dessa forma, existe então um sistema de alfabetização mais eficaz para nosso cérebro?
Dehaene: Sem dúvida. Em vez de focar os esforços no ensino das unidades visuais, é preciso mudar para unidades auditivas. Sons, fonemas. Jogos fonológicos podem auxiliar, desde pequena, a criança a reconhecer palavras. É preciso ajudar a criança a identificar os diferentes sons que compõem uma palavra para só depois fazê-la compreender que as letras representam esses sons. Depois disso é que a criança estará pronta para juntar as letras. Desconfio de cartilhas muito coloridas e bonitas, cheias de desenhos e pouco texto, assim como cartazes desenhados nas paredes da escola que trazem as mesmas letras na mesma posição o ano inteiro. Existe um risco enorme de os alunos – em geral, os mais brilhantes – memorizarem as posições fixas de cada palavra ou a aparência da página. Dão a impressão de saberem ler, mas não sabem.

 

É preciso ajudar a criança a identificar os diferentes sons que compõem uma palavra para só depois fazê-la compreender que as letras representam esses sons. Depois disso é que a criança estará pronta para juntar as letras.

 

RNE: Existe, portanto, diferença entre aprender a ler e compreender o texto.
Dehaene: Sim, claro. A compreensão daquilo que se lê não está descrita em minha pesquisa. Mas isso requer a mobilização de competências cognitivas muito mais complexas do que as envolvidas no processo da alfabetização. Para compreender não é necessário saber ler. Há adultos analfabetos que entendem muita coisa, apenas não aprenderam a ler.

RNE: Existe idade ideal para aprender a ler? Há prejuízos quando isso ocorre na idade adulta?
Dehaene: Pesquisei toda a literatura disponível a respeito da idade ideal para a alfabetização. Há países que alfabetizam alunos com 6 ou 7 anos e até mais tarde. Outros, com 4 anos. Não encontrei nada que sugira que exista um período crítico para esse aprendizado. Não haverá danos para o cérebro se o aprendizado for mais tarde – ele reconhece objetos novos o tempo todo, não importa a idade. Continuamos aprendendo, mesmo aos 40, 50 anos. Há diversos estudos internacionais com adultos que aprenderam a ler perfeitamente. Portanto, não acredito nessa limitação.

RNE: Há alguma ativação cerebral peculiar em quem lê e fala mais de um idioma? E em quem domina línguas com alfabetos ou grafias diferentes?
Dehaene: Nós não sabemos o que se passa exatamente com pessoas bilíngues, ou seja, alfabetizadas em dois idiomas. Fizemos experiências com pessoas que leem chinês e outra língua e constatamos que praticamente a mesma região cerebral é ativada. Evidentemente devem existir microdiferenças, mas nada marcante.

RNE: Nosso cérebro decodifica letras e números da mesma maneira?
Dehaene: Não. Os estudos mostram que não é a mesma região cerebral que analisa as letras e os números. Pesquisamos pessoas que perderam a capacidade de ler e continuam reconhecendo números. Há uma pequena região lateral, a um centímetro daquela que reconhece as palavras, que é a responsável pelos números. As formas das letras e dos números são diferentes e culturais. As letras estão ligadas à linguagem e os números, ao senso de quantidade. São dois sistemas diferentes de entendimento.

RNE: De que forma acontece a alfabetização no cérebro de pessoas cegas e surdas?
Dehaene: É extraordinário, pois os cegos que aprendem a ler em braile, uma atividade tátil, ativam a mesma região cerebral da leitura. É incrível, pois essa região não recebe estímulos visuais, mas recebe os estímulos táteis. As formas visuais das palavras são ativadas pelo tato, ao tocar as letras em braile. É uma experiência que transforma as imagens em sons, o que demonstra que a língua falada não é exclusivamente visual, ela também é tátil. O aprendizado em braile é muito eficiente. No caso dos surdos, o aprendizado é mais difícil. É como aprender a ler numa outra língua – uma criança brasileira lendo em chinês, por exemplo. Ela não conhece os fonemas, as representações fonéticas. É preciso que o professor tenha o conhecimento dessa dificuldade, e uma maneira de trabalhar é ajudando o aluno a tomar consciência da fonologia, tocando em sua boca a região correspondente ao fonema quando se pronunciam as palavras. Quero lembrar, no entanto, que todas as crianças são capazes de aprender a ler, sem exceção. Algumas com um pouco mais de dificuldade, outras não.

RNE: Além das estratégias de sala de aula, há outras atividades que favorecem o aprendizado da leitura e da escrita?
Dehaene: O sono é essencial para consolidar a aprendizagem. É o que cérebro faz durante a noite. Pais que reclamam de dificuldades de aprendizado ou de distúrbios de atenção devem, num primeiro momento, entender que a noite é para dormir, e não para ficar no computador ou na televisão. Todos os cérebros são capazes de aprender. Apenas é preciso sistematizar o ensino.

RNE: Pesquisas mostram que os brasileiros leem pouco e não praticam a atividade por prazer. Uma das causas pode estar no processo de alfabetização?
Dehaene: Eles podem não ler livros, mas leem muito pela internet. Hoje há formas diferentes de leitura. Na internet, é possível ler bastante, pesquisar, procurar novas informações. Há muito mais pesquisas, por exemplo, do que antes. Não acredito na falência da leitura, muito pelo contrário. Acho que ela vai continuar, mas de outra forma. Assim como nós também evoluímos desde Gutenberg (gráfico alemão que revolucionou a escrita com a invenção da prensa de tipos móveis). Vamos descobrir novos meios de escrita e leitura. E, com certeza, nosso cérebro vai se moldar novamente.

 

 

O nascimento de uma palavra

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Deb Roy, pesquisador e diretor do Laboratory for Social Machines do Massachusetts Institute of Technology (MIT), em palestra proferida para o TED, descreve o processo de desenvolvimento da linguagem de seu filho, em experimento conduzido em sua própria residência. No projeto The Human Speechome, registrou por um período de 90 mil horas (10 horas diárias, do nascimento até os 3 anos da criança), (quase) todas as palavras e conversas entre o pesquisador, sua esposa e a babá, na presença da criança, através de 11 câmeras e 14 microfones instalados em diferentes locais da residência. Um dos objetivos da pesquisa foi determinar, através de modelos matemáticos, a influência do meio ambiente sobre a aquisição da linguagem. Uma pesquisa com profundas implicações sobre a maneira como aprendemos.

Sobre o estudo, ouça como  um “gaaaa” lentamente transformou-se em “água”:   e leia a matéria publicada no wired.com. Alguns dos arquivos publicados sobre o projeto: “The Human Speechome Project“, “New Horizons in the Study of Child Language Acquisition“, “Toward Understanding Natural Language Directions“, “Exploring Word Learning in a High-Density Longitudinal Corpus“.

 

Pensamento crítico: a melhor ferramenta de educação alimentar e nutricional

glogoA Revista de Nutrição publicou, neste mês de dezembro, uma série de artigos sobre a temática envolvida com a Educação Alimentar e Nutricional. Os textos estão disponíveis no site da revista. Reproduzimos, aqui, o interessante editorial sob autoria das pesquisadoras Maria Cláudia da Veiga Soares Carvalho (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Maria Angélica Tavares de Medeiros (Universidade Federal de São Paulo e Associação Brasileira de Saúde Coletiva), Maria Lúcia Magalhães Bosi (Universidade Federal do Ceará e Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e Shirley Donizete Prado (Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Associação Brasileira de Saúde Coletiva).


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A Revista de Nutrição é um periódico de relevância histórica no campo da Alimentação e Nutrição; um campo que, nos planos científico e profissional, é relativamente recente. Sua fundação como Periódico data de 1988 e, desde então, vem consolidando a produção científica nesse campo, de livre acesso, difundindo resultados de pesquisa, ensaios e discussões, efetivando assim o espírito democrático requerido pela produção científica comprometida com a sociedade.

Em continuidade a essa iniciativa, que reafirma o caráter ético e transformador da ciência, apresentamos neste número a Seção Temática “Educação Alimentar e Nutricional (EAN)”, com o intuito de dar visibilidade à discussão de questões educacionais no campo da Alimentação e Nutrição. Educação Alimentar e Nutricional é tema central e desafiador nas políticas públicas de alimentação desde a formação desse campo e, hoje, ganha força na Política Nacional de Alimentação e Nutrição e na Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.

Em sua constituição como ciência na década de 1940, mergulhado em um projeto de racionalização científica, o processo educativo em alimentação parte da premissa de que o padrão alimentar do brasileiro deveria mudar, sobretudo em relação às camadas mais pobres da população, como decorrência das precárias condições socioeconômicas em que se encontravam inseridas. A concepção de uma ração ideal foi objeto de várias intervenções educativas voltadas à coletividade. Hoje, a crítica a um padrão alimentar deficiente em relação ao consumo de verduras, legumes e frutas, além de ressaltar condições higiênico-sanitárias insuficientes, se aprofundou com as demandas de Segurança Alimentar e Nutricional em defesa do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), mas se renova com estratégias educativas com base em sensibilidades para a cultura local e complexos processos de subjetivação emergentes neste cenário de hipermodernidade.

Nesse espaço, as novas tecnologias, centradas na virtualidade e na velocidade da informação, disseminam no plano virtual de comunicação um vasto e incontrolável repertório de significados circulantes em zonas on line de livre acesso, para todos os cantos do Brasil, promovendo transformações nas conexões sociais. No entanto, embora as Políticas Públicas em alimentação e nutrição marquem um avanço na consolidação do DHAA, o processo de modernização não transformou a condição perversa de desigualdade social na organização social brasileira. Ao contrário, aprofundou a violência simbólica revestida por semblante progressista liberal, como se todos tivéssemos a mesma chance, como se o mundo fosse ‘Darwinisticamente’ favorável aos ‘bons’ em um processo de seleção natural.

A condução de um pensamento crítico de EAN tem a intenção de reconhecer ideologias, pois não podemos ceder aos vícios teóricos e/ou metodológicos de isolar as condições sociais e econômicas das políticas. As ideologias são parte do jogo político que embala a EAN e precisam estar em constante debate. É preciso, sobretudo, criticar nossos próprios rumos. No contexto de ideologias duvidosas e silenciadas, apostamos no pensamento crítico e ético como a melhor ferramenta de EAN, cientes de que a universidade precisa escapar à posição de desvalida e prejudicada, reconstruindo continuamente seus discursos e ações educativas. Apostamos na combinação entre informação e reflexão para que, estando mais conscientes de nossas limitações, possamos dispor de nós mesmos na condução de nossas vidas para rumos emancipatórios.

Neste temático apresentamos cinco artigos em torno das práxis de Educação Alimentar e Nutricional. O artigo “Análise de planos de ensino de educação (alimentar e) nutricional nos cursos de nutrição” analisa a construção coletiva de iniciativas contemporâneas e documentos como o Marco de Referência de EAN para as Políticas Públicas, dando visibilidade à troca de experiências e saberes que sustentam esse processo. Na mesma motivação de uma construção coletiva, o artigo “Cooperação internacional em segurança alimentar e nutricional: sistematização de práticas educativas participativas,  contextualizadas e intersetoriais” evidencia como as diferentes técnicas pedagógicas adotadas contribuíram para uma construção compartilhada de concepções sobre Segurança Alimentar e Nutricional, primando pela valorização da participação dos sujeitos sociais e das peculiaridades da alimentação nos diferentes contextos socioeconômicos e culturais.

O artigo sobre a elaboração sistemática de um “Instrumento imagético de educação alimentar e nutricional para alimentação saudável” está voltado para prevenção e tratamento da obesidade, assim como para promoção da alimentação saudável, o que reforça o caráter de utilidade pública de EAN evitando que se faça uma ruptura prática/teoria. E, nesse sentido, com vistas a problematizar e subsidiar ações de EAN sob a lente do pensamento complexo, o artigo “Compulsão alimentar sob um olhar complexo: subsídios para a práxis da educação alimentar e nutricional” problematiza os transtornos do comportamento alimentar e articula o plano teórico com a empiria, de modo a evidenciar a necessidade de projetos singulares que incorporem as experiências de vida e a subjetividade dos atores alvos das ações.

Por fim, no artigo “A atenção nutricional ao Pré-natal e Puerpério: relato de experiência em um município do litoral Paulista”, as autoras relatam a experiência de parceria universidade/serviço na implantação de Atenção Nutricional ao Pré-natal e Puerpério tendo como foco a EAN, que permitiu o desenvolvimento de ações de vigilância ao pré-natal, além do vínculo entre gestantes/puérperas e equipes.

Estas foram pesquisas e reflexões desenvolvidas em um cenário contraditório em que, tanto a fome, quanto a obesidade são estéticas atrozes de um tipo de modernização, por isso reforçam o pensar crítico na intenção de que este seja um material para modular os planejamentos de ações educativas e abrir brechas para cada leitor avaliar as condições que lhe são favoráveis para desenvolver práticas efetivas, democráticas e fundamentadas de Educação Alimentar e Nutricional.

 

 

Café & Ciência

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Organizado pelos professores/pesquisadores Leonardo Torres Leal, do Departamento de Biofísica e Fisiologia, e Emidio Marques de Matos Neto, do Departamento de Educação Física, ambos da Universidade Federal do Piauí (UFPI), o projeto Café & Ciência apresentará, em seu lançamento, o tema Discutindo os caminhos e descaminhos da ciência. Segundo os organizadores, o objetivo do projeto é “o debate sobre assuntos relacionados com o meio científico com enfoque na inserção de alunos de graduação na ciência”. Nesta primeira edição, o Café & Ciência contará com a presença do aluno Tiago Eugênio, que desenvolve projeto de mestrado no Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP).

O evento acontecerá no no Setor de Esportes da UFPI, no dia 20 de dezembro de 2016, às 10h, e terá transmissão ao vivo pela página do Facebook do ONutricional.

Apoio à pesquisa e à inovação em Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas

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A Chamada tem por objetivo apoiar atividades de pesquisa de excelência, inovadoras e criativas, nos temas elencados nas Linhas de Pesquisa, com foco em Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas. As propostas devem apresentar abordagem multi e interdisciplinar, com vistas a aportar novos conhecimentos  e a fornecer contribuições efetivas para solução de problemas nacionais dentro dos seguintes temas:

a) Educação básica: ensino e formação docente
b) Cidadania, violência e direitos humanos

O primeiro tema vai ao encontro do esforço nacional de melhoria da educação básica e visa à produção de conhecimento de modo a subsidiar a elaboração, implementação e avaliação de políticas educacionais, capazes de contribuir para a elevação da qualidade da educação brasileira. Quanto ao tema da violência, que tem incidência sobre todo o tecido social, é imperiosa a necessidade de elegê-lo como eixo central. Assim, a Chamada direciona seu foco para a investigação de tópicos tais como uso da força física, crueldade, intolerância, medo, segurança e sua interação com as diversidades (gênero, raça/etnia, orientação sexual, populações vulneráveis etc.) e os direitos humanos.

Dadas as suas características, esta Chamada contemplará propostas nas quais a concepção de rede entre pesquisadores e instituições esteja presente, tanto nos aspectos do transbordamento disciplinar (interdisciplinaridade), da projeção territorial (nacional e internacional), da transferência dos resultados à sociedade, quanto do arranjo financeiro necessário em face da escala dos trabalhos pretendidos.

As inscrições estarão abertas até o dia 24 de outubro. Para acessar a Chamada, em seu texto integral, acesse: http://zip.net/bbttJ7

CNPq lança chamada na área de Segurança Alimentar

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Pesquisas na área de Segurança Alimentar e Nutricional recebem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) no valor total de R$ 4 milhões.

Está aberta a chamada pública nº 016/2016 na área de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) no âmbito do Programa de Desenvolvimento de Estratégias de Caráter Socioeducativas e Sociotécnicas em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional para os países da União das Nações Sul Americanas (UNASUL), com submissão de propostas até 19 de outubro.

Os projetos de pesquisa podem ser submetidos nas seguintes linhas de temáticas: Linha 1 – Direito Humano A Alimentação Adequada; Linha 2 – Antropologia Da Alimentação E Cultura Alimentar; Linha 3 – Politicas Públicas, Regulação, Monitoramento E Controle Social; Linha 4 – Sistemas Sustentáveis De Produção De Alimentos Saudáveis; Linha 5 – Gestão Pública Da Produção E O Abastecimento Alimentar; Linha 6 – Educação Alimentar E Nutricional (Ean); Linha 7 – Tecnologias Sociais E Inovação (Produção, Manipulação E Conservação De Alimentos Seguros E Saudáveis); Linha 8 – Qualidade Nutricional Dos Alimentos; Linha 9 – Controle E Prevenção De Agravos Decorrentes Da Má Alimentação.

Entre as ações previstas, está identificar e fomentar núcleos e grupos de ensino, pesquisa, extensão e apoiar a geração e difusão de conhecimento e tecnologias na área; integrar políticas públicas de modo a estimular a produção do conhecimento, as necessidades sociais e de gestão, produzindo o desenvolvimento social, segurança alimentar e nutricional, e inclusão social; alem da agricultura familiar, o abastecimento alimentar e compras institucionais até um consumo saudável.

As propostas devem ser encaminhadas ao CNPq exclusivamente via Internet, utilizando-se do Formulário de Propostas online, disponível na Plataforma Carlos Chagas.

Para saber mais acesse o edital da chamada.

Coordenação de Comunicação Social do CNPq

Agrotóxicos e maniqueísmo

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“A alternativa ao uso excessivo de fertilizantes não é um cultivo estritamente orgânico, mas manejos integrados, onde são aplicadas doses menores de agroquímicos, potencializados por maiores quantidades de materiais orgânicos e minerais, que propiciam condicionamentos positivos na biota do solo e altas vantagens monetárias aos agricultores”. Por Rui Daher, via Carta Capital.

 

CAPES divulga edital para apoio a propostas de eventos científicos no país

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“A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulga nesta quarta-feira, 17, o Edital nº 21/2016, referente à chamada pública no âmbito do Programa de Apoio a Eventos no País (PAEP), com objetivo de selecionar propostas para apoio financeiro à realização de eventos científicos, tecnológicos e culturais de curta duração no país, com envolvimento de pesquisadores, docentes e discentes dos programas de pós-graduação. Esta chamada atenderá os eventos previstos para o período de 1º de fevereiro de 2017 a 31 de julho de 2017.”

A data limite para as inscrições é