O Segredo de Minerva

cover_front_bigA cidade de São Paulo completou, nesta semana, 463 anos de fundação. Já é, portanto, uma senhora de respeito. Não estive a par das comemorações, mas invariavelmente são as mesmas coisas todos os anos. Parece que, nesta vez, a novidade foi a volta do Bolo do Bixiga, que havia parado por falta de patrocínio. Feliz ou infelizmente, a população não o despedaçou em questão de minutos – pelo contrário, civilizadamente, cada qual recebeu um pedaço. No fundo, tanto quanto a tradição de sempre fazer um bolo maior do que no ano anterior, havia também a graça (ou o horror) de contabilizar, em centésimos de segundos, o tempo que o bolo seria devorado pela multidão.

Para quem não conhece, esse Bixiga é também a Bela Vista, antigo bairro de imigrantes italianos, colado à Liberdade – outrora também um reduto de estrangeiros (japoneses, em sua maioria). Hoje, esses bairros centrais têm ocupação bem mais popular – sendo, aqui e ali, pontilhados de moradias coletivas (cortiços, como a tal “Saudosa Maloca” cantada pelo querido Adoniran Barbosa).

É nessa São Paulo mais do que quatrocentona, mutante e tão cheia de detalhes que se passa “O Segredo de Minerva”, do estreante Fernando Cilio. E Sampa está tão intimamente ligada ao desenrolar deste romance policial-esotérico que já nas primeiras páginas troca a condição de cenário pela de personagem a ser decifrada, quase protagonista, das venturas e desventuras de Matheus e Maria Eduarda – dupla que preenche as mais de 300 páginas do livro.

Cilio foi generoso em partilhar com seus leitores o resultado de suas pesquisas em torno dos muitos símbolos maçônicos e religiosos espalhados pela cidade. Usando-os, tanto os ocultos quanto aqueles do tamanho de um prédio, o autor teceu uma delicada, intrigante e saborosa rede de implicações, em um jogo que conduz o leitor pelos muitos labirintos da metrópole. Por isso, é preciso fôlego e atenção para acompanhar a história, que, por vezes, adota ritmo de videoclipe, enquanto, outras vezes, é professoral e didática, ensinando-nos o que, em outra parte, não aprenderíamos sobre a história da igreja romana ou sobre a maçonaria – duas das instituições igualmente presentificadas no texto (a polícia paulista também ganhou destaque nesta história escrita por um advogado que já foi policial – e que entende de vinhos e de alta gastronomia como poucos).

Aliás, quem conhecer o autor pessoalmente, que mantém uma pequena e charmosa adega na agradável Águas de São Pedro, no interior paulista, pode adivinhar algumas notas biográficas no personagem Matheus – e talvez esboçar, aqui e ali, um pequeno sorriso maroto. Certamente valerá a pena pensar quem seria cada um dos outros personagens, se a vida imitasse a arte – e não o contrário. Mas não é preciso conhecer o autor para reconhecer-lhe o talento na construção desses personagens, no uso dos cenários e, principalmente, na formatação das muitas cenas de ação – dignas de filmes hollywoodianos.

Numa São Paulo carente de áreas verdes, o autor, simbolicamente, começou e terminou sua trama em dois importantes parques paulistanos. Por falar em terminar, lembro-me de, na primeira vez que li, não ter gostado nenhum pouquinho do final: achei-o fora de contexto. Na segunda vez, contudo, compreendi o desfecho e o entendi como uma ideia brilhante e, ao mesmo tempo, surpreendente – e que permite imaginar que há muito mais história para ser contada. Ainda bem.

Autor: Fernando Cilio

Título: O Segredo de Minerva

Editora: Clube de Autores

ISBN: 9990051870688

Páginas: 363

 

Aprendizagem Social Emocional

 

focotriplo_altaPor Jorge Alves de Lima

Nosso pequeno grupo de leitura chegou ao seu segundo livro: O Foco Triplo. Já faz tempo que terminei o curso de licenciatura, por isso, fiquei bem desacostumado com o tema “educação”, pois criei certo distanciamento do assunto. A verdade é que eu ainda tenho em mente vários textos e várias discussões sobre a complexa relação entre alunado, professorado, família, direção escolar – que, invariavelmente, descambavam para vitimizações de parte a parte e para a enumeração das muitas razões (reais) do insucesso das práticas pedagógicas ou das muitas explicações do fracasso escolar.

Evidentemente, por ser um organismo presente em praticamente todas as sociedades, a escola/educação é um tema de grande abrangência e está ao alcance de todos, quer sejam os cientistas do assunto, quer sejam os operadores (docentes, dirigentes), quer sejam os beneficiários (alunos). Daí que muito pode ser dito, com mais ou menos proficiência – e eu aqui, escrevendo sobre educação, acabo sendo um (mau) exemplo dessa liberdade de tratar do assunto, já que não sou nem estudioso do tema, nem professor e faz tempo deixei de ser aluno…

O que posso dizer de concreto sobre esse pequeno livro é que ele me cativou porque os autores não colocam o foco no que não deu certo e, muito interessante, também não descrevem teorias mirabolantes notadamente inexequíveis. Eles dissertam sobre experiências postas em prática que fizeram uso dos conceitos imbricados na Aprendizagem Social Emocional – que é o fio condutor dos textos reunidos no livro.

Confesso que nunca ouvi falar de Peter Senge, que aborda, na obra em apreço, o pensamento sistêmico e a inteligência sistêmica. Já, sobre o outro autor, Daniel Goleman, eu tinha alguma expectativa, pois sabia que se tratava do nome por trás do best-seller “Inteligência Emocional” – que foi uma verdadeira febre nos anos 1990 (que, claro, eu não li, pois eu já me esforçava, naquela época, para ficar por fora de tudo que estivesse na moda). Coube a Goleman tratar de dois dos focos abordados no livro: o foco em nós mesmos e a sintonia com outras pessoas.

A edição é agradável e o texto de ambos é sempre leve. Por se tratar de uma tradução, certamente merece aplauso o trabalho de Cássio de Arantes Leite. Há pequenas notas esclarecedoras no final do livro, que contribuem para complementar o texto-base. A leitura flui e o leitor verdadeiramente tem condições de visualizar as muitas experiências partilhadas pelos autores. Em momento algum o discurso pareceu-me doutrinador, desses que tentam nos convencer de alguma coisa. Pareceu-me muito mais uma conversa, na qual um dos lados tem mais para compartilhar e o faz com entusiasmo na medida certa. Ao terminar de ler, fiquei com a impressão de que há (ainda) muito para se fazer pela educação, porém, há também muitas possibilidades e alternativas interessantes.

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Autores: Daniel Goleman e Peter Senge
Tradutor: Cássio de Arantes Leite
Título: O Foco Triplo – uma nova abordagem para a educação
Editora: Objetiva (Rio de Janeiro)
ISBN: 978-85-390-0724-0
Páginas: 123

Por que fazemos o que fazemos?

46331096Por Jorge Alves de Lima

Escrever que vale a pena ler o novo livro do Cortella é chover no molhado. Tem sido assim nos últimos 20 poucos anos, pois Mario Sergio Cortella é um daqueles filósofos que fala da vida para quem (ainda) está vivo, fala de algo que você já pode usar enquanto lê o livro ou imediatamente depois que terminar de lê-lo – e ainda para a vida inteira.

Não sou um erudito, nem um crítico do trabalho do Cortella, mas penso que a filosofia do cotidiano, que versa (também) sobre a ética das relações pessoais ou profissionais ou acadêmicas e sabe-se mais lá no que a ética possa (e deva) ser posta, parece-me a matéria-prima desse consagrado autor, o qual tive a honra de assistir pela primeira vez dentro de um ciclo de palestras promovido pela Prefeitura de São Paulo e realizado na magnífica Biblioteca Mário de Andrade no começo dos anos 2000.

Mês passado, com alguns amigos, formamos um incipiente clube de leitores e começamos nossa prática compartilhando justamente a leitura de um mesmo exemplar do recém-lançado livro “Por que Fazemos O Que Fazemos?”. Não terminamos nosso ciclo de leitura; portanto, não fizemos a discussão em grupo à qual nos propusemos, de modo que cada um segue ainda na digestão silenciosa daquilo que aprendeu sozinho com o que leu.

Não vou aqui soltar trechos do livro ou separar melhores frases ou exemplos de sequências de efeito, pois coisa parecida deve ter aos montes pela internet e já deve até ter virado “meme” nas redes sociais. Trato apenas de dizer que vale a pena ler. Não sei se é o melhor Cortella de todos os tempos (nem sei se o autor o considera sua obra-prima – talvez, não, pois é um livro rápido, leve e que tem certa reciclagem de ideias). Ao que me pareceu, trata-se de um texto muito mais voltado para aqueles que estão interessados no universo do trabalho (ou querendo entrar ou querendo sair ou querendo mudar sua relação com o mundo profissional).

Nosso exemplar foi comprado na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (São Paulo), pelo simples prazer de passear por entre livros (pois, no site da Folha de São Paulo, na mesma ocasião, o exemplar impresso estava bem mais barato, mesmo considerando o valor do frete).

Autor: Mario Sergio Cortella

Título: Por que Fazemos o Que Fazemos?

Editora: Planeta do Brasil

ISBN: 8542207416

Páginas: 176

Resenha: “Magnesium in human health and disease”

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By Alexandre R. Lobo –

WATSON RR, PREEDY VR, SIBADI S (Eds.). Magnesium in human health and disease. New York: Humana Press, 2013. 309p.

THE BOOK MAGNESIUM IN HUMAN HEALTH AND DISEASE, which is part of the Nutrition and Health Series, presentes comprehensive and current aspects of magnesium status in diferente pathological conditions. The book, which features the collaboration of over 50 researchers from diferente countries, contains 20 chapters, divided into 5 sections. In the first section, it is showed the main aspects of the assessment of dietary consumption and mineral status as well as the biochemical basis of their role in inflammation, endotelial function and cytokine regulation. The scond section contains four chapters that describe the importance of magnesium status in the development of chronic diseases. The influence of genetic costitution in maintaining mineral homeostasis and its implications in glycemic control in diabetics are also emphasized. The third section discusses the therapeutic potential of magnesium supplementation in metabolic syndrome and associated conditions. The impact of this intervention in the treatment of osteoporosis are also discussed by considering the involvement of magnesium in boné physiology, specifically in bone formation and regulation of parathyroid hormone secretion as well as by its actions on vitamin D metabolismo. In the fourth section, the importance of magnesium in the cardiovascular system is showed in four chapters. The consequences of magnesium deficiency in the development of hypertension, arrhythmia and heart failure are based on results of epidemiological, clinical and experimental studies. Magnesium acts as a natural calcium channel blocker and, among others effects, affects the vascular tone, platelet aggregation, endotelial function and lipid metabolism. In the fifth and final part, five chapters describe comprehensively the basis of the clinical role of magnesium in neurological function. The book features in each chapter, a table with the key points addressed and a set of current references that help to contextualize and deepen the theme. In summary, the book presentes recente and highly relevant information about magnesium, which will allow students, clinicians and scientists to expand their knowledge on the role of magnesium in healthy individuals as well as those affected by acute or chronic pathological conditions.

 Resenha originalmente publicada em Braz J Pharmaceutical Sciences, v.50 (1), p.227, 2014