Bioatividade antioxidativa de metabólitos secundários de origem vegetal

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Por Aubrey Porto e Débora Neitzel – Alunos de graduação, Faculdades Ponta Grossa.                                     Com a colaboração de Alexandre R. Lobo – Nutricionista, Secretaria Municipal de Educação, Piraí do Sul/PR

Quimicamente, reações de oxidação envolvem a doação de um ou mais elétrons por uma substância (agente redutor) numa dada reação química. Por sua vez, enquanto um agente “doa” ou “perde” elétrons (e se oxida, portanto), outro – agente oxidante –  “recebe” esse (s) elétron (s) e se reduz no processo. Redução e oxidação são eventos [redox] simultâneos que constituem a base para o entendimento da formação de espécies reativas (algumas das quais conhecidas como “radicais livres”) – com diferentes graus de reatividade – nos processos bioquímicos de utilização do oxigênio, cuja atuação medeia a transferência de elétrons em inúmeras rotas bioquímicas em todos os sistemas biológicos aeróbios.

O equilíbrio na produção e remoção destas espécies químicas é fundamental para a manutenção da higidez homeostática celular e metabólica. Em outras palavras, embora importantes para diversas funções, como a sinalização de processos celulares e o combate a microrganismos infecciosos, sua produção descontrolada está relacionada com o desenvolvimento de doenças crônicas e a aceleração do processo natural de envelhecimento.

Sendo assim, sistemas de antioxidação enzimáticos e não enzimáticos, em situações de estresse oxidativo (isto é, quando há produção excessiva de radicais livres), funcionam como inibidores (1) da formação e (2) da ação destes intermediários reativos, ou ainda, (3) como reparadores de lesões oxidativas provocadas em moléculas e estruturas celulares. Dentro desta perspectiva biológica, alimentos possuem um papel preponderante no fornecimento dietético de componentes bioativos – nutrientes e não nutrientes – que podem atuar como antioxidantes (de modo direto, como não enzimáticos, e de modo indireto, participando dos sistemas antioxidantes enzimáticos).

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Fórmula estrutural de alguns compostos fenólicos

A presença de alguns desses componentes, em alimentos de origem vegetal, tem implicações evolutivas. Como estratégia de defesa ambiental, plantas possuem um sistema de proteção contra a ação de herbívoros, de modo que alguns componentes possuem desde características que interferem na palatabilidade ou dificultam a sua digestibilidade (como a de alguns fenólicos e das fibras) ou apresentam algum grau de toxicidade para alguns de seus comensais. Sendo assim, os metabólitos secundários – componentes pouco abundantes, porém importantes na adaptação das plantas dentro de seus ecossistemas – são produzidos seletivamente ou como um mecanismo de defesa da planta contra patógenos – atuando como antibióticos, antifúngicos e antivirais –, com atividades antigerminativas ou tóxicas para outras plantas, ou ainda com a função de atração de insetos ou outros animais, com propósitos desenvolvimentais.

São cada vez mais evidentes os benefícios proporcionados pelo consumo continuado de dietas nutricionalmente diversificadas, fundamentalmente contendo matrizes alimentares de origem vegetal – como frutas, legumes e verduras – contendo variados componentes com algum papel antioxidativo. Micronutrientes (algumas vitaminas e minerais) e compostos fenólicos com diferentes estruturas e presentes em diferentes compartimentos celulares (condição que indica o meio no qual apresentam maior bioatividade) destacam-se como os mais relevantes antioxidantes dietéticos. Importante salientar que seus efeitos biológicos podem ser afetados pela interação entre os componentes no alimento e pela sua bioacessibilidade durante o trânsito intestinal. Estes contratempos fisiológicos influenciarão suas concentrações sanguíneas e, por sua vez, os efeitos biológicos em seus tecidos-alvo. Igualmente importante e desafiador é o estabelecimento de marcadores adequados na avaliação da atividade antioxidante e a identificação desses efeitos resultantes do consumo de dietas contendo variados tipos de antioxidantes.

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