Helena Nader: decisões do Congresso impactarão negativamente o futuro do País

O Senado aprovou na noite desta terça feira a PEC 55 em primeira instância. Na mesma noite, a Câmara desfigurou as 10 medidas do pacote anticorrupção

“Apesar de todos os esforços da comunidade acadêmica, científica, tecnológica e de inovação, o Congresso virou as costas para o desenvolvimento do País”, declarou a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso Brasileiro (SBPC), Helena Nader, na manhã desta quarta-feira, 30 de novembro. Com 61 votos favoráveis, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que limita os gastos públicos federais à taxa de inflação pelos próximos 20 anos, foi aprovada em primeiro turno no Senado Federal na noite desta terça-feira, 29 de novembro. Apenas 14 senadores votaram contra. Na mesma noite, a Câmara aprovou o projeto que cria as 10 medidas anticorrupção, mas excluiu pontos-chave do texto, mantendo apenas duas medidas com a versão original. A SBPC considera gravíssima tais decisões.

“As últimas decisões do Congresso Nacional impactarão negativamente, por um longo tempo, o futuro do País, comprometendo educação e CT&I”, declara a presidente da SBPC.

Nader ressaltou o empenho de toda a comunidade nos últimos meses para evitar a aprovação da PEC 55, desde documentos demonstrando os retrocessos para a economia e desenvolvimento social do País, até corpo-a-corpo com os parlamentares, na Câmara e no Senado. Segundo ela, os parlamentares tomaram uma decisão sem levar em conta a opinião pública. “Primeiro foi a Câmara. Agora o Senado, em primeira instância, que virou as costas para o povo brasileiro. Uma mudança desse porte na Constituição teria que ter uma constituinte, porque isso altera para sempre o futuro do País”, afirma.

Segundo a presidente da SBPC, o congelamento das despesas pelos próximos 20 anos vai na contramão do que todos os países que hoje estão entre os mais desenvolvidos do mundo colocaram em prática nos momentos de crise. “A Coreia, em 1999, no meio de uma crise econômica semelhante à brasileira, fez um estudo com várias alternativas e viu que a única solução de longo prazo para sair da crise era investindo em CT&I, além da educação. Hoje é um dos países cuja economia mais cresce no mundo”, destaca.

Esse é o momento de o Brasil copiar os modelos de países como Coreia, China, Estados Unidos e Europa, que para sair da crise, investiram mais nessas áreas. “Educação, ciência, tecnologia e inovação é investimento, não é gasto”, afirma.

Nader disse ainda que a mudança nas dez medidas do pacote anticorrupção também é chocante: “O Congresso virou as costas duas vezes essa noite. Primeiro com a PEC 55 e, depois, com o pacote anticorrupção”“A SBPC há 69 anos luta ao lado do povo brasileiro para o desenvolvimento do Brasil. A gente quer que o País dê certo. Estamos chocados”, disse Nader.

A votação em segundo turno da PEC do Teto de Gastos está programada para 13 de dezembro.


Por Daniela Klebis – Publicado originalmente em Jornal da Ciência, em 30 de novembro de 2016.

 

 

Seminário Nacional Sobre o Direito Humano à Alimentação

the

Nos dias 30/11 e 01/12, o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) participará do Seminário Nacional sobre o Direito Humano à Alimentação, promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e pela Frente Parlamentar de Segurança Alimentar. O Conselho apresentará sua posição na mesa Experiências na efetivação do direito humano à alimentação – Registro de experiências dos movimentos sociais para efetivação do direito humano à alimentação – agroecologia, abastecimento, educação nutricional, alternativas produtivas e de comercialização.
Outros parceiros da defesa do direito humano à alimentação também participam do evento, como a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida, integrada pelo CFN, Consea, Contag, Via Campesina, Associação Brasileira de Agroecologia, e outros. O seminário acontecerá no Plenário Anexo II, da Câmara dos Deputados.

Confira a programação no site do CFN.

I Encontro Nacional entre Cientistas e Educadores

header-edu-cien-1-750x400

Como a ciência pode ajudar a educação? A pergunta, que motivou a criação da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE), será tema de debate do I Encontro Nacional de Cientistas e Educadores, que ocorre nos dias 9 e 10 de dezembro, no Rio de Janeiro, no Museu do Amanhã.

Na ocasião, pesquisadores, educadores, gestores e interessados no tema da educação terão a oportunidade de unir experiências e compartilhar ideias com o objetivo de identificar de que modo as pesquisas científicas podem contribuir para diminuir os gargalos da educação no país. A ideia é que a aproximação entre esses públicos possa instigar a adoção de práticas educacionais e políticas públicas mais eficientes.

No encontro serão apresentados resultados de pesquisas com potencial de facilitar o aprendizado e o ensino, passando por áreas como o desenvolvimento infantil, a alfabetização, o papel das novas tecnologias no ensino e o potencial da neurociência no aprendizado. Também serão discutidas experiências exitosas em educação no país e estabelecido um momento de diálogo entre educadores e cientistas com o intuito de identificar gargalos na educação que possam ser sanados pela ciência.

Criada em novembro de 2015, a Rede CpE é formada por mais de 70 grupos de pesquisas de todo o país unidos com o objetivo de estimular estudos científicos que possam dar lastro a práticas e políticas educacionais baseadas em evidências. O projeto conta com o apoio do Instituto Ayrton Senna, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação industrial (Embrapii) e do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O encontro vem depois de uma série de reuniões menores realizadas pelo país que buscaram responder à pergunta “Como a ciência pode contribuir com a educação?”. Ao final do evento nacional, as questões levantadas nesses encontros prévios serão debatidas em conjunto com a plateia.

“Queremos construir uma ponte de mão dupla entre ciência e educação, entre a ciêncialândia e a educópolis”, diz o coordenador da Rede CpE, o neurocientista Robeto Lent (UFRJ). “O potencial de contribuição das diferentes disciplinas científicas para a educação é indiscutível e essa aplicação vem sendo feita em países como EUA, Austrália e China. Aqui no Brasil, onde temos indicadores educacionais tão alarmantes, investir em ciência para educação é uma janela de oportunidade que não pode ser ignorada.”

Quando: 09 e 10/12
Onde: Museu do Amanhã
Praça Mauá, 1 – Centro, Rio de Janeiro – RJ
Inscrições: na página do evento no Facebook ou em https://museudoamanha.org.br/pt-br/encontro-brasileiro-de-educadores-e-cientistas

Programação:

Dia 01 – 09 de dezembro

9:00-9:10 Abertura, Luiz Alberto Oliveira, Museu do Amanhã

9:10-9:50 Conferência 1 – Ciência para Educação, o que é?
Moderador: Mozart Neves Ramos (IAS)
Conferencista: Roberto Lent (ICB-UFRJ)

9:50-12:20 Mesa-redonda 1– Desenvolvimento da criança: a ponte para o futuro
Moderadora: Melina Sarnaglia (Museu do Amanhã)
Desenvolvimento das crianças e o papel dos pais – M.Beatriz Linhares (USP-RP)
Fatores fisiológicos associados à apredizagem – Fernando Louzada (UFPR)
Sugestões de políticas públicas baseadas na neurociência – Sidarta Ribeiro (UFRN)
DEBATEDORES: Helena Bomeny e Patricia Lins e Silva
DEBATE COM O PÚBLICO

12:20-14:00 Almoço

14:00-16:00 – Mesa Redonda 2- Novas Tecnologias: Contra ou a favor da educação?
Moderadora: Marilia Zaluar Guimarães (ICB-UFRJ)
Mídia Virtual: promover motivação para atitudes pró-sociais ou anti-sociais? – Eliane Volchan (UFRJ) Aprendizagem móvel em sala de aula – Patricia Behar (UFRGS)
Inteligência artificial e educação– Patrícia Maillard (UNISINOS)
A sala de aula do futuro – Rosa Vicari (UFRGS)
DEBATEDORES: Antonio Neto e Duda Falcão
DEBATE COM O PÚBLICO

16:00-16:15 – Intervalo

16:15-17:30 – Conferência 2 – Por que a educação? Socioemocional é um componente constitutivo da educação?
Moderadora: Debora Foguel (IBqM-UFRJ)
Conferencista: Ricardo Paes de Barros (INSPER)
DEBATEDOR: Luiz Carlos Menezes (USP)
DEBATE COM O PÚBLICO

Dia 02 – 10 de dezembro

09:00-10:00 – Conferência de Encerramento – Antonio Gois (JEDUCA)
DEBATE COM O PÚBLICO

10:00-12:00 – Mesa-redonda 3 – Quais os gargalos da educação para os quais a ciência pode contribuir?
Moderadores: Daniela Botaro, Mailce Mota, Daniela Barros, John Araujo
DEBATE COM O PÚBLICO

12:00-12:30 – Encerramento: Conclusões e propostas
Moderação: Sidarta Ribeiro (UFRN)

Rosely Sayão: escola e família – em busca de uma nova relação

Rosely Sayão, psicóloga e consultora educacional, fala sobre diversos conflitos que permeiam a relação escola-família no Brasil e sugere alternativas de como essa relação pode se tornar mais justa, democrática e respeitosa. Sua palestra foi publicada pelo TED Talks no dia 04 de abril de 2016.

Reaprendendo a ler notícias

jornal-lupa-2-1

Por Jorge Alves de Lima

A revista Veja e o jornal O Estado de São Paulo, também conhecido como Estadão, foram dois dos noticiosos que fizeram parte do final da minha infância e do começo da minha adolescência, graças a uma prima que trabalhava em um consultório ginecológico e os trazia para mim. Por obra divina, o médico não assinava a Contigo, uma revista de fofocas, e nem existia a famigerada Caras – publicações mais comumente encontradas nas salas de espera e que certamente teriam castigado minha formação enquanto leitor de notícias.

Depois, cheguei a ser leitor regular da Folha da Tarde e do Jornal da Tarde – conhecidos por terem um ar mais descontraído. Também assinei a revista IstoÉ, de notícias, além da Playboy – segundo amigos e inimigos, fui um dos poucos leitores das matérias escritas da revista, pois muitos se interessavam apenas pelos ensaios fotográficos. Há controvérsias. Verdade é que eu gostava de revistas, por isso, fui leitor regular de Exame, Casa Cláudia, Mundo Estranho, Superinteressante, Caros Amigos, Cult (dessa, tenho muita saudade), Bravo, Seleções, Projeto, Urbs, Época e Você S/A.

Apesar de ainda acompanhar com alguma regularidade diversos meios, confesso que, dentre os veículos escritos, acostumei-me de vez ao padrão da Folha, que procura atrelar comentaristas/colunistas aos assuntos, formando o binômio notícia e opinião, que, comigo, tem funcionado bem. No formato revista, porém, as publicações da Folha beiram à futilidade: a revista que circula aos domingos até melhorou bastante, mas aquela Serafina (mensal) é de doer…

Sem nunca ter sido assinante, lia frequentemente e gostava muito do finado Jornal do Brasil (e sua ótima revista dominical) e ainda leio, quando posso, O Globo. Porém, sendo revisor de texto, o tempo para ler periódicos foi ficando escasso, ao passo que ficou mais fácil seguir as notícias pelo rádio e, claro, pela internet. Ainda assim, atualmente, sou leitor-assinante da Folha. De uns tempos para cá, tenho ouvido muito sobre a questão de a mídia estar vendida para este ou para aquele lado; daí que resolvi experimentar: assinei, mesmo sem conhecer, a revista CartaCapital.

Ocorre que, por engano, junto com a terceira remessa – que acabou de chegar aqui em casa – veio também um exemplar da revista Veja, devidamente acompanhado da Veja em São Paulo (a Vejinha).  Uns vinte anos atrás, isto seria o mesmo que acertar na loteria: ter duas revistas para ler no mesmo final de semana! Mas não desta vez: não me interessei nem mesmo em folhear a Veja, ao passo que esta terceira entrega da CartaCapital me alcançou sem que eu tivesse lido nenhum dos exemplares já recebidos. Em verdade, na semana passada, com a chegada do segundo exemplar, lembrei-me de tirar o primeiro da embalagem para, enfim, folheá-lo.

Com a revista em mãos, estranhei tudo: a diagramação, a distribuição das matérias, os anúncios e, claro, o foco. A sensação de estranheza reside, principalmente, na abordagem: parece-me que vou me deparar com informações desencontradas, pois, evidentemente, quando uma revista semanal fica pronta, muitos de seus assuntos já foram tratados e, por esse prisma, boa parte da construção da minha opinião sobre determinado tema já se deu a partir dos outros meios de comunicação.

Percebo-me, portanto, diante de um exercício de leitura, pelo qual eu preciso reaprender a ler o que é novo, o que é diferente. Não tive essa estranheza com a revista Caros Amigos, que, se me recordo bem, se apresentava também como fora do circuito tradicional. Claro que eram outros tempos: sendo jovem, a novidade me chegava sem muitas barreiras ao coração e dali se irradiava para o corpo e para o espírito. Aos 43 anos, vejo que fui ficando um pouquinho reacionário e ligeiramente refratário à novidade – além de reclamar da “juventude transviada” com os mesmos velhos argumentos que eu ouvira na minha mocidade.

Penso que essa troca de papéis entre jovens e nem tão jovens seja cíclica e sirva para alimentar o movimento do mundo: não fossem os jovens acreditarem nas revoluções, no futuro e nas utopias e talvez ainda estivéssemos morando em cavernas. Por outro lado, não fossem os mais experientes corrigindo os rumos, propiciando os meios e garantido os resultados, talvez também ainda estivéssemos no tempo das cavernas – mas já sem cavernas para morar.

Por enquanto, percebo que fiz com a CartaCapital aquilo que eu fizera com a Wikipédia, com o Firefox, com o ReclameAqui, com a própria Folha e com outras organizações: assinei ou investi (não muito, claro) para patrociná-los enquanto alternativa, pois penso ser positivo termos opções à disposição e sermos igualmente responsáveis por elas. Por não acreditar em notícia grátis, resisto o quanto posso ao conforto de buscar informações fáceis em páginas da internet supostamente gratuitas – e nem tenho mais idade para acreditar em total imparcialidade na produção de conteúdo: todos temos um ponto de vista para defender e o fazemos com maior ou menor parcialidade.

Daí que ler a revista CartaCapital venha a ser o meu exercício pessoal em busca de um novo olhar. Não sei muito sobre a revista, mas aposto que seja uma boa publicação, pois não chegou ontem ao mercado e tem em Mino Carta um publisher respeitável. A publicação tem muitos (e ferozes) críticos – aliás, foram as críticas que me contaram de sua existência. E parece-me que essas críticas também signifiquem que a revista não é um veículo invisível: sua mensagem chega aonde tem que chegar e deve incomodar alguns players do mercado e da política (sabe-se lá onde o “mercado” se distingue da “política” nesses tempos de conluios).

Penso ser esse o papel de uma publicação no formato de revista: reunir um grupo de leitores em torno de um ponto de vista. Acreditar na sua maneira de narrar o mundo. Vender uma alternativa de pensamento. Aliás, porque creio nisso, critico respeitosamente a existência de revistas como a Caras, mas as folheio sem compromisso e com ligeira diversão enquanto espero meu dentista me chamar.

Da minha parte, contudo, espero reaprender a ler textos diferentes do que eu venho lendo, sem esse sentimento tão forte de estranheza – e, com esse reaprendizado, quem sabe, recobrar um pouco da juventude que está me escapando velozmente com o passar do tempo. E também ainda espero uma revolução, em mim e no mundo – mas, agora, já torço para que seja mansinha e respeitosa. Uma revolução, como diria Drummond, “Que faça acordar os homens e adormecer as crianças”.

Jessé Souza: políticas públicas e desigualdade em tempos de crise

Em evento ocorrido em abril de 2016, o pesquisador, historiador e sociólogo Jessé Souza, da Universidade Federal Fluminense (UFF), discute sobre políticas públicas, desigualdades e outros problemas que o país enfrenta nos tempos atuais.

O evento foi promovido pelo Bacharelado em Políticas Públicas da UFABC (BPP-UFABC), com o apoio dos cursos de Ciências e Humanidades (BCH), Planejamento Territorial (BPT), Ciências Econômicas (BCE), Relações Internacionais (BRI) e do Centro Acadêmico de Políticas Públicas (CAPOL).